Colisa (Trichogaster lalius)

Introdução

O peixe Colisa, cientificamente conhecido como Trichogaster lalius (anteriormente Colisa lalia), encanta aquaristas de todo o mundo com suas cores vibrantes e comportamento pacífico. Sua beleza, aliada à relativa facilidade de manutenção, o torna uma adição popular a aquários comunitários. Este guia completo visa fornecer informações detalhadas para criadores iniciantes e experientes, abordando desde a taxonomia até os cuidados específicos para garantir o bem-estar desses peixes fascinantes.

Classificação

A taxonomia, como uma bússola na vastidão da vida, nos orienta na compreensão das relações entre os seres vivos. No caso do Colisa, essa classificação revela nuances importantes sobre sua história evolutiva e suas necessidades ecológicas.

Nome Popular

Os nomes populares refletem a percepção humana sobre a espécie. O Colisa é conhecido por diversos nomes, como:

  • Colisa Lália (o mais comum).
  • Gourami Anão.
  • Lália.
  • Gourami Vermelho (referindo-se à coloração comum dos machos).

A variação nos nomes populares muitas vezes se deve a diferenças regionais e à própria aparência do peixe, com destaque para a coloração exuberante. “Lália” é provavelmente uma adaptação de um nome vernacular indiano.

Ordem e Família

O Colisa pertence à:

  • Ordem: Perciformes (uma das maiores ordens de peixes, caracterizada por espinhos nas nadadeiras).
  • Família: Osphronemidae (família que engloba os gouramis e outros peixes labirintídeos).

A classificação do gênero tem passado por revisões. Originalmente classificado como Colisa, atualmente é mais aceito como pertencente ao gênero Trichogaster. Essa mudança reflete estudos filogenéticos que demonstraram maior proximidade evolutiva com outras espécies do gênero Trichogaster.

Sinônimos

A mudança de gênero resultou em importantes sinônimos:

  • Colisa lalia (nome original e ainda amplamente utilizado).
  • Trichopodus lalius (outro sinônimo menos comum).

A sinonímia existe porque, ao longo do tempo, diferentes cientistas classificaram a mesma espécie sob nomes distintos. A ciência busca unificar essa nomenclatura, e a tendência atual é o uso de Trichogaster lalius, reconhecendo a revisão taxonômica.

Etimologia

A etimologia, o estudo da origem das palavras, nos ajuda a entender o significado dos nomes científicos:

  • Trichogaster: Do grego “thrix” (cabelo) e “gaster” (barriga), aludindo às nadadeiras pélvicas filiformes, que se assemelham a finos fios.
  • Lalius: A origem exata é incerta, mas acredita-se que derive de um nome vernacular indiano para a espécie.

Biótopo

O biótopo descreve o ambiente natural onde a espécie vive:

  • Água: Calmas, com baixa correnteza ou mesmo paradas, como pântanos, arrozais, lagos e rios de planície.
  • Vegetação: Densa vegetação aquática, incluindo plantas flutuantes como aguapés e alface-d’água, além de plantas submersas. Essa vegetação oferece abrigo contra predadores, locais para desova e sombreamento.
  • Substrato: Geralmente composto por lodo, areia fina ou detritos vegetais.
  • Outras características: Água turva devido à presença de matéria orgânica em suspensão.

A presença de plantas flutuantes é crucial, pois além de oferecer abrigo, servem como suporte para os ninhos de bolhas construídos pelos machos durante a reprodução. O substrato escuro contribui para a sensação de segurança dos peixes e realça suas cores.

Distribuição Geográfica/Habitat

O Colisa é nativo do Sul da Ásia:

  • Países: Índia, Bangladesh, Nepal e, possivelmente, regiões adjacentes.
  • Habitat: Planícies aluviais com extensas áreas alagadas, caracterizadas por águas calmas e rica vegetação.

Propriedades da Água

Assim como um maestro rege uma orquestra, o aquarista deve reger os parâmetros da água, assegurando a harmonia do ambiente para seus peixes.

PH

O pH mede a acidez ou alcalinidade da água. A escala varia de 0 a 14, sendo 7 neutro, valores abaixo de 7 ácidos e acima de 7 alcalinos.

Faixa Ideal: Para o Colisa Lália, a faixa ideal de pH situa-se entre 6.5 e 7.2, ou seja, ligeiramente ácido a neutro. Essa faixa replica as condições encontradas em seus habitats naturais.

Importância da Estabilidade: Mais importante do que atingir um valor específico é manter o pH estável. Variações bruscas de pH podem causar estresse severo nos peixes, tornando-os mais suscetíveis a doenças e, em casos extremos, levando à morte. A estabilidade pode ser alcançada com monitoramento regular, trocas parciais de água frequentes e um sistema de filtragem eficiente. Soluções tampão (buffers) podem auxiliar na estabilização, mas devem ser usadas com cautela e sob orientação.

Como Medir e Ajustar: Kits de teste de pH líquidos ou eletrônicos permitem a medição precisa. Para aumentar o pH, pode-se usar bicarbonato de sódio (com extrema cautela e monitoramento). Para diminuir, extrato de turfa ou produtos específicos para acidificar a água podem ser empregados. As trocas parciais regulares com água previamente tratada também ajudam a manter o pH dentro da faixa ideal.

Dureza

A dureza da água (GH) mede a concentração de minerais dissolvidos, principalmente cálcio e magnésio. É expressa em graus alemães (dGH) ou partes por milhão (ppm).

Faixa Recomendada: O Colisa Lália prefere água mole a moderadamente dura, com uma faixa de 5 a 15 dGH.

Impacto na Saúde: A dureza afeta a osmorregulação, o processo pelo qual os peixes controlam o equilíbrio de água e sais em seus corpos. Dureza muito baixa pode causar problemas de equilíbrio iônico, enquanto dureza muito alta pode dificultar a absorção de nutrientes.

Como Medir e Ajustar: Kits de teste de GH permitem a medição. Para diminuir a dureza, pode-se usar água deionizada ou água de osmose reversa na reposição das trocas parciais. Para aumentar, sais minerais específicos para aquário podem ser adicionados.

Temperatura

A temperatura da água influencia diretamente o metabolismo dos peixes.

Temperatura Ideal: A faixa ideal para o Colisa Lália é de 24°C a 28°C.

Riscos de Temperaturas Extremas:

  • Temperaturas Baixas: Diminuem o metabolismo, tornando os peixes lentos, apáticos e mais vulneráveis a doenças.
  • Temperaturas Altas: Aceleram o metabolismo, aumentando o consumo de oxigênio e podendo levar à falta de oxigênio dissolvido na água, além de tornar os peixes mais propensos a infecções bacterianas.

Como Controlar: Aquecedores com termostato mantêm a temperatura constante. Termômetros precisos são essenciais para monitorar a temperatura. Em regiões muito quentes, ventiladores ou chillers podem ser necessários para resfriar a água.

Manter os parâmetros da água dentro das faixas recomendadas e, principalmente, estáveis, é fundamental para a saúde e o bem-estar do Colisa Lália. A observação constante do comportamento dos peixes e a realização de testes regulares da água são práticas essenciais para o aquarista.

Características

Observar um Colisa em seu aquário é como assistir a um balé aquático. Seus movimentos suaves e cores vibrantes criam um espetáculo hipnotizante. Mas por trás dessa beleza, há uma complexidade biológica que merece ser explorada.

Alimentação

O Colisa é onívoro, ou seja, alimenta-se tanto de matéria vegetal quanto animal. No ambiente natural, sua dieta consiste em pequenos insetos, larvas, crustáceos, algas e outros materiais orgânicos.

Rações: Flocos, granulados e outros tipos de ração comercializadas para peixes tropicais são uma boa base alimentar. Opte por rações de boa qualidade, com ingredientes variados.

Alimentos Vivos: Larvas de mosquito (principalmente as vermelhas), dáfnias, artêmias e enquitreias são excelentes complementos, fornecendo nutrientes importantes e estimulando o comportamento de caça.

Alimentos Congelados: Larvas de mosquito congeladas, artêmias congeladas e outros alimentos congelados oferecem uma alternativa prática aos alimentos vivos.

Frequência e Quantidade: Alimente os Colisas 2 a 3 vezes ao dia, em pequenas porções que possam ser consumidas em poucos minutos. Evite o excesso de comida, que pode poluir a água. A variedade na dieta é crucial para garantir a ingestão de todos os nutrientes necessários.

Tamanho Adulto

O Colisa Lália atinge um tamanho máximo de aproximadamente 8 cm.

Expectativa de Vida

Com os cuidados adequados, um Colisa pode viver entre 3 e 5 anos em aquário.

Nível de Dificuldade para Criar e Manter o Peixe Saudável

O Colisa é considerado um peixe de fácil a intermediário para manter. Adapta-se bem a aquários com parâmetros de água adequados e uma boa rotina de cuidados.

Cuidados Essenciais:

  • Manutenção da qualidade da água (trocas parciais regulares, filtragem eficiente).
  • Alimentação balanceada e variada.
  • Ambiente com plantas e esconderijos.
  • Observação constante do comportamento dos peixes.

Comportamento e Compatibilidade

O Colisa é um peixe pacífico e geralmente convive bem com outras espécies de porte semelhante e comportamento tranquilo.

Peixes Compatíveis: Tetras pequenos (neon, rodostomus), rasboras, corydoras, otocinclus e outros peixes pacíficos de cardume.

Territorialidade: Machos de Colisa podem ser territorialistas entre si, principalmente em aquários pequenos. Recomenda-se manter apenas um macho por aquário ou um grupo com um macho e várias fêmeas. Evite manter com outros anabantídeos (como bettas e outros gouramis), pois a competição territorial pode gerar estresse e agressividade.

Dimorfismo Sexual

A distinção entre machos e fêmeas é relativamente fácil:

  • Machos: Apresentam cores mais vibrantes, com tons de vermelho, laranja e azul intensos. A nadadeira dorsal é alongada e pontiaguda.
  • Fêmeas: Possuem cores mais discretas, geralmente prateadas ou amareladas. A nadadeira dorsal é mais curta e arredondada.

Doenças Comuns

O Colisa pode ser afetado por algumas doenças comuns em peixes de aquário:

  • Íctio (Doença do Ponto Branco): Causada por um parasita, manifesta-se por pequenos pontos brancos no corpo e nas nadadeiras. Tratamento com medicamentos específicos para ictio, seguindo as instruções do fabricante.
  • Infecções Bacterianas: Podem causar feridas, nadadeiras corroídas e outros sintomas. Tratamento com antibióticos específicos para peixes, sob orientação de um veterinário ou especialista em aquarismo.

A prevenção é sempre o melhor remédio. Manter a qualidade da água, oferecer uma dieta balanceada e evitar o estresse são medidas importantes para prevenir doenças.

Reprodução

O Colisa é um construtor de ninho de bolhas. O macho constrói um ninho na superfície da água, utilizando bolhas de ar envoltas em saliva.

Processo Reprodutivo: O macho corteja a fêmea e a conduz para o ninho. A fêmea libera os ovos, que são fertilizados pelo macho e colocados no ninho. O macho protege o ninho e os ovos até a eclosão dos alevinos.

Cuidados com os Alevinos: Após a eclosão, os alevinos devem ser alimentados com infusórios, náuplios de artêmia ou alimentos líquidos específicos para alevinos. A remoção dos pais após a desova é recomendada para evitar que eles comam os filhotes.

Tamanho Mínimo do Aquário

O espaço, no reino aquático, é sinônimo de liberdade e saúde. Um aquário pequeno demais pode restringir os movimentos dos peixes, gerar estresse e até mesmo afetar seu desenvolvimento físico.

Recomendação

Casal: O tamanho mínimo recomendado para um casal de Colisas Lália é de 40 litros. Este volume oferece um espaço razoável para que o casal possa se movimentar e estabelecer um pequeno território.

Pequeno Grupo: Para um pequeno grupo de 3 a 4 indivíduos (idealmente um macho e duas ou três fêmeas), um aquário com capacidade a partir de 60 litros é o mais adequado. Um volume maior dilui a concentração de poluentes, oferece mais espaço para cada indivíduo e minimiza a competição territorial entre os machos.

Dimensões: Mais importante que o volume em si, são as dimensões do aquário. Um aquário com maior comprimento e largura oferece mais área de natação horizontal, que é mais importante para o Colisa do que a altura. Dimensões como 60 cm de comprimento, 30 cm de largura e 30 cm de altura (aproximadamente 54 litros) são um bom ponto de partida.

Justificativa

Tamanho do Peixe: Embora o Colisa Lália seja considerado um peixe anão (atingindo até 8 cm), ele necessita de espaço para nadar e explorar o ambiente. Um aquário muito pequeno limitará seus movimentos e poderá causar estresse crônico.

Comportamento: Machos de Colisa podem apresentar comportamento territorial, especialmente na presença de outros machos. Um aquário maior oferece mais espaço para que cada indivíduo estabeleça seu território, minimizando conflitos e agressões.

Qualidade da Água: Em aquários menores, a concentração de poluentes (amônia, nitrito e nitrato) tende a aumentar mais rapidamente, exigindo trocas parciais de água mais frequentes. Um volume maior oferece maior estabilidade nos parâmetros da água.

Bem-estar: Espaço adequado contribui para o bem-estar geral dos peixes, permitindo que expressem seus comportamentos naturais, como a construção de ninhos de bolhas pelos machos.

Considerações Adicionais

Densidade de Peixes: Além do tamanho do aquário, é importante considerar a quantidade total de peixes no aquário. A superpopulação pode levar a problemas de qualidade da água e aumentar o estresse dos peixes.

Decoração: A presença de plantas, troncos e outros elementos decorativos também influencia o espaço disponível para os peixes. Um aquário densamente plantado exigirá um volume maior para garantir espaço livre para natação.

Filtragem: Um sistema de filtragem eficiente é essencial para manter a qualidade da água, independentemente do tamanho do aquário.

Oferecer um aquário com o tamanho adequado é um investimento no bem-estar e na longevidade dos seus Colisas Lália. Um ambiente espaçoso e bem estruturado permitirá que esses peixes exibam todo o seu esplendor e proporcionem momentos de observação gratificantes para o aquarista.

Posição no Aquário

Observar a dança dos Colisas no aquário é um deleite. Eles deslizam com graça, explorando diferentes níveis da coluna d’água.

Meio e Superfície: O Colisa Lália é tipicamente um peixe de meio e superfície. É comum observá-los nadando na porção superior do aquário, próximos à superfície, onde frequentemente constroem seus ninhos de bolhas. No entanto, também exploram a região intermediária, buscando abrigo entre as plantas e outros elementos da decoração.

Relação com Hábitos e Necessidades:

  • Respiração Labiríntica: O Colisa, como outros anabantídeos, possui um órgão acessório de respiração chamado labirinto, que permite a absorção de oxigênio diretamente do ar atmosférico. Essa característica explica a frequência com que esses peixes são vistos na superfície, buscando ar fresco.
  • Construção de Ninhos de Bolhas: Os machos constroem ninhos de bolhas na superfície da água para abrigar os ovos durante a reprodução. A preferência pela superfície está diretamente ligada a esse comportamento reprodutivo.
  • Busca por Abrigo: A presença de plantas flutuantes e outras estruturas na superfície oferece sombra e refúgio para os Colisas, simulando as condições encontradas em seu habitat natural. A região intermediária, com plantas e troncos, também serve como esconderijo, proporcionando segurança e reduzindo o estresse.
  • Alimentação: Embora aceitem alimentos que afundam, os Colisas costumam se alimentar na superfície, coletando pequenos insetos e outros organismos que flutuam na água.

Implicações para o Aquário

  • Plantas Flutuantes: A presença de plantas flutuantes, como aguapés ( Pistia stratiotes ) ou lentilhas d’água ( Lemna minor ), é altamente recomendada, pois oferece abrigo, sombreamento e locais para a construção de ninhos de bolhas.
  • Decoração: A decoração do aquário deve incluir plantas de diferentes alturas, troncos e outros elementos que criem diferentes níveis e áreas de sombra, permitindo que os peixes escolham onde se sentir mais confortáveis.
  • Circulação da Água: Uma circulação suave da água é ideal, evitando correntezas fortes que possam perturbar os ninhos de bolhas e dificultar a respiração na superfície.

Observando atentamente o comportamento dos Colisas no aquário, podemos entender melhor suas necessidades e proporcionar um ambiente mais adequado e estimulante. Ao recriar as condições que eles encontram na natureza, estamos contribuindo para o seu bem-estar e permitindo que exibam todo o seu esplendor.

Referências

  1. FISHBASE. Trichogaster lalius. Disponível em: https://www.fishbase.se/summary/Trichogaster-lalius.html. Acesso em: 16 jan. 2025.
  2. SERIOUSLY FISH. Trichogaster lalius. Disponível em: https://www.seriouslyfish.com/species/trichogaster-lalius/. Acesso em: 16 jan. 2025.
  3. INNES, W. T. Exotic aquarium fishes: A work of general reference. Metaframe Corporation, 1966.
  4. AXELROD, H. R.; VORDERWINKLER, W. Encyclopedia of tropical fishes. Neptune City, NJ: T.F.H. Publications, 1973.
  5. FISHIPEDIA. Gourami enano • Trichogaster lalius • Ficha de pez. Disponível em: https://www.fishipedia.es/pez/trichogaster-lalius. Acesso em: 16 jan. 2025.
  6. RESEARCHGATE. Trichogaster lalius. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/327183359_Trichogaster_lalius. Acesso em: 16 jan. 2025.
  7. NATURALISTA COLOMBIA. Gurami enano (Trichogaster lalius). Disponível em: https://colombia.inaturalist.org/taxa/114374-Trichogaster-lalius. Acesso em: 16 jan. 2025.

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