Tetra Sangue ou Mato Grosso (Hyphessobrycon eques)

Introdução

O Tetra Sangue ( Hyphessobrycon eques ), também conhecido como Mato Grosso, é um pequeno peixe caracídeo vibrante que conquista aquaristas de todos os níveis há décadas. Sua coloração vermelha intensa, combinada com o comportamento ativo e cardumeiro, o torna uma adição fascinante para aquários comunitários. Este guia completo visa fornecer informações detalhadas sobre a espécie, desde sua biologia até os cuidados necessários para mantê-la saudável e feliz em cativeiro, servindo como um recurso confiável tanto para iniciantes quanto para aquaristas experientes.

Classificação

A classificação científica é a espinha dorsal para entendermos qualquer ser vivo. No caso do nosso Tetra Sangue, a organização é a seguinte:

Nome Popular: Esta espécie atende por diversos nomes, refletindo sua popularidade e características marcantes:

  • Mato Grosso (referência à região de ocorrência).
  • Tetra Sangue (devido à coloração vermelha intensa, que lembra sangue).
  • Serpae Tetra (nome comum em inglês, cuja origem é menos clara, possivelmente uma variação regional ou comercial).
  • Tetra-do-Mato-Grosso (nome mais completo, combinando a classificação taxonômica “Tetra” com a origem geográfica).

Ordem e Família: O Tetra Sangue pertence à:

  • Ordem Characiformes: Uma vasta ordem de peixes teleósteos, predominantemente de água doce, caracterizados pela presença de uma bexiga natatória com conexão com o ouvido interno e, frequentemente, dentes nas mandíbulas.
  • Família Characidae: Uma das maiores famílias de peixes de água doce, com ampla distribuição nas Américas Central e do Sul. Os caracídeos exibem grande diversidade de formas, tamanhos e hábitos alimentares, compartilhando características como a presença de nadadeira adiposa (pequena nadadeira carnosa entre a dorsal e a caudal) e, em muitos casos, dentes bem desenvolvidos.

Sinônimos: Ao longo do tempo, a ciência pode reclassificar ou renomear espécies. Alguns sinônimos científicos para Hyphessobrycon eques incluem:

  • Hemigrammus melanopterus
  • Tetragonopterus eques

É importante conhecer esses sinônimos, pois podem aparecer em literaturas mais antigas.

Etimologia: A “certidão de nascimento” científica, por assim dizer:

  • Hyphessobrycon: O nome genérico deriva do grego, combinando “hyphesson” (menor ou pequeno) com “brykon” (mordedor), uma referência aos seus pequenos dentes.
  • eques: O epíteto específico vem do latim e significa “cavaleiro” ou “guerreiro”. A razão para essa denominação não é totalmente clara, mas pode aludir à sua postura ativa e ágil ou à coloração vibrante que o destaca.

Biótopo: Para entender um peixe, é crucial conhecer seu lar. O biótopo do Tetra Sangue é caracterizado por:

  • Água: Águas calmas a ligeiramente correntes, geralmente claras, mas podendo apresentar leve turbidez devido à presença de matéria orgânica em suspensão.
  • Vegetação: Abundante vegetação aquática, tanto flutuante quanto submersa, oferecendo abrigo e áreas de desova.
  • Substrato: Fundo composto por areia fina, cascalho e detritos vegetais, como folhas e galhos em decomposição.

Distribuição Geográfica/Habitat: O Tetra Sangue é nativo da América do Sul, com ocorrência registrada nas bacias dos rios Paraguai e Guaporé, abrangendo áreas do Brasil (principalmente no Pantanal Matogrossense), Bolívia e Paraguai. Essa distribuição geográfica indica uma adaptação a climas tropicais e subtropicais.

Propriedades da Água

Manter a qualidade da água é um dos pilares do aquarismo. Para o Tetra Sangue, alguns parâmetros são cruciais:

PH: O pH mede a acidez ou alcalinidade da água em uma escala de 0 a 14, sendo 7 neutro. Para o Tetra Sangue, a faixa ideal de pH situa-se entre 6.0 e 7.5, com o ideal entre 6.5 e 7.0, ou seja, ligeiramente ácida a neutra.

  • Importância do pH: O pH influencia diretamente processos fisiológicos dos peixes, como a respiração, a osmorregulação (equilíbrio de sais e água no organismo) e a atividade enzimática. Variações bruscas ou valores fora da faixa ideal podem causar estresse, dificultar a absorção de nutrientes, comprometer o sistema imunológico e até mesmo levar à morte. Em pHs muito baixos (ácidos), pode ocorrer acidose, enquanto em pHs muito altos (alcalinos), pode ocorrer alcalose. Ambos os extremos são prejudiciais.

Dureza (dGH): A dureza da água refere-se à concentração de minerais dissolvidos, principalmente cálcio e magnésio. É medida em graus alemães (dGH). Para o Tetra Sangue, a faixa ideal de dureza situa-se entre 5 e 15 dGH, com o ideal entre 8 e 12 dGH, caracterizando uma água macia a ligeiramente dura.

  • Como a dureza afeta os peixes: A dureza da água influencia a osmorregulação e a permeabilidade das membranas celulares dos peixes. Em águas muito moles (baixa dureza), os peixes podem ter dificuldade em manter o equilíbrio de sais em seus corpos, levando a problemas de saúde. Em águas muito duras (alta dureza), a absorção de nutrientes pode ser prejudicada, e podem ocorrer problemas de pele e brânquias.

Temperatura: A temperatura da água influencia diretamente o metabolismo e a atividade dos peixes. Para o Tetra Sangue, a faixa ideal de temperatura situa-se entre 24°C e 28°C, com o ideal entre 26°C e 28°C.

  • Importância da temperatura: Temperaturas abaixo de 24°C podem deixar os peixes mais lentos, suscetíveis a doenças e com o sistema imunológico comprometido. Temperaturas muito altas, por outro lado, podem acelerar o metabolismo, aumentar o consumo de oxigênio e causar estresse. A estabilidade da temperatura é fundamental, evitando variações bruscas.

Manter os parâmetros da água dentro das faixas ideais é essencial para a saúde e o bem-estar do Tetra Sangue. Acompanhar regularmente o pH, a dureza e a temperatura com testes específicos e realizar trocas parciais de água frequentes são práticas recomendadas para garantir um ambiente saudável para esses peixes vibrantes.

Características

Entender o comportamento, as necessidades e a reprodução do Tetra Sangue é essencial para proporcionar um ambiente adequado e garantir o bem-estar desses peixes.

Alimentação: Na natureza, o Tetra Sangue é onívoro com uma clara tendência carnívora. Sua dieta consiste principalmente de pequenos invertebrados aquáticos, larvas de insetos (como larvas de mosquito), microcrustáceos e zooplâncton. Em aquário, essa preferência deve ser respeitada.

Alimentação em aquário: Aceitam prontamente rações em flocos e granuladas de boa qualidade, específicas para tetras ou peixes onívoros de pequeno porte. No entanto, para garantir uma nutrição completa e estimular o comportamento de caça, é fundamental oferecer alimentos vivos ou congelados regularmente, como:

  • Artêmia salina (viva ou congelada)
  • Dáfnias
  • Larvas de mosquito (vermelhas ou brancas)
  • Microvermes
  • Enquitreias (em menor quantidade, devido ao alto teor de gordura)

A variedade na dieta não só garante a ingestão de todos os nutrientes necessários, como também previne o tédio e estimula o comportamento natural dos peixes.

Tamanho Adulto: O Tetra Sangue atinge um tamanho máximo de cerca de 4 a 5 cm. É um peixe pequeno, o que o torna adequado para aquários comunitários de porte médio, desde que respeitadas as necessidades de espaço para o cardume.

Expectativa de Vida: Com os cuidados adequados, incluindo água de boa qualidade, alimentação balanceada e ambiente adequado, o Tetra Sangue pode viver entre 5 e 10 anos.

Nível de Dificuldade para Criar e Manter o Peixe Saudável: O Tetra Sangue é considerado um peixe relativamente fácil de manter, sendo uma boa opção para aquaristas iniciantes. No entanto, como qualquer ser vivo, exige alguns cuidados básicos:

  • Qualidade da água: Manter os parâmetros da água dentro das faixas ideais (pH, dureza, temperatura) e realizar trocas parciais de água regularmente são cruciais.
  • Alimentação adequada: Oferecer uma dieta variada e balanceada, como descrito anteriormente.
  • Ambiente adequado: Proporcionar um aquário com espaço suficiente para o cardume nadar e se abrigar, com plantas e outros elementos decorativos.

Comportamento e Compatibilidade: O Tetra Sangue é um peixe de cardume, o que significa que se sente mais seguro e exibe seu comportamento natural quando mantido em grupo. Recomenda-se manter um grupo de pelo menos 6 indivíduos, idealmente 8 ou mais. Em grupos menores, podem se tornar tímidos e estressados.

  • Compatibilidade: São peixes pacíficos e podem ser mantidos com outras espécies de porte semelhante e temperamento calmo, como outros tetras, rasboras, coridoras, otocinclus e pequenos ciclídeos pacíficos. Deve-se evitar associá-los a peixes muito maiores ou agressivos, que possam predá-los ou estressá-los. Em aquários superlotados ou com pouca área de natação, podem apresentar o hábito de mordiscar as nadadeiras de peixes com nadadeiras longas, como lebistes e bettas.

Dimorfismo Sexual: O dimorfismo sexual no Tetra Sangue é relativamente sutil. Os machos geralmente apresentam coloração mais intensa, principalmente na região vermelha, e possuem uma nadadeira dorsal mais desenvolvida, com uma borda preta mais pronunciada. As fêmeas são ligeiramente maiores e possuem o abdômen mais roliço, principalmente durante o período reprodutivo.

Doenças Comuns: O Tetra Sangue é suscetível às doenças comuns em peixes de aquário, principalmente quando as condições da água não são ideais. As doenças mais comuns incluem:

  • Íctioftiríase (Íctio ou Doença dos Pontos Brancos): Causada por um parasita protozoário, manifesta-se por pequenos pontos brancos no corpo e nas nadadeiras. O tratamento geralmente envolve o uso de medicamentos específicos e o aumento da temperatura da água.
  • Infecções fúngicas: Manifestam-se por manchas brancas algodonosas no corpo. O tratamento envolve o uso de antifúngicos específicos.
  • Infecções bacterianas: Podem causar diversos sintomas, como feridas, nadadeiras corroídas e inchaço abdominal. O tratamento envolve o uso de antibióticos específicos.

A prevenção é sempre o melhor remédio. Manter a água limpa e dentro dos parâmetros ideais, oferecer uma alimentação balanceada e realizar quarentena em novos peixes são medidas essenciais para evitar o surgimento de doenças.

Reprodução: A reprodução do Tetra Sangue em aquário é possível, mas exige algumas condições específicas. São peixes ovíparos, ou seja, as fêmeas liberam os ovos na água, que são fertilizados externamente pelos machos.

  • Reprodução em aquário: Para estimular a desova, é recomendável utilizar um aquário separado (aquário de reprodução) com água macia e ácida (pH entre 6.0 e 6.5, dureza baixa), temperatura entre 26°C e 28°C e a presença de plantas de folhas finas ou musgo de Java, onde os ovos serão depositados. A iluminação deve ser suave. Após a desova, os pais devem ser removidos do aquário de reprodução, pois não há cuidado parental e eles podem predar os ovos. Os alevinos eclodem em cerca de 24-36 horas e devem ser alimentados com infusórios e, posteriormente, com náuplios de artêmia.

Tamanho Mínimo do Aquário

A pergunta crucial: qual o tamanho ideal para abrigar um cardume de Tetras Sangue? A resposta não é um número mágico, mas uma consideração de diversos fatores.

  • Tamanho mínimo recomendado: Para um cardume de 6 a 8 indivíduos, o tamanho mínimo recomendado para o aquário é de 50 litros. No entanto, é importante enfatizar que aquários maiores são sempre preferíveis, principalmente se o objetivo for manter um cardume maior ou associá-los a outras espécies.
  • Justificativa: A necessidade de um aquário com dimensões adequadas para o Tetra Sangue se baseia em dois pilares principais:
    • Espaço para o nado: O Tetra Sangue é um peixe ativo que adora nadar. Em aquários pequenos, ficam confinados e estressados, o que pode comprometer sua saúde e seu comportamento natural. Um aquário com comprimento adequado permite que o cardume nade livremente, exercitando-se e interagindo uns com os outros. O comprimento do aquário é mais importante que a altura, pois eles nadam horizontalmente.
    • Comportamento social (cardume): Como já mencionado, o Tetra Sangue é um peixe de cardume. Manter um grupo de pelo menos 6 indivíduos é essencial para que se sintam seguros e exibam seu comportamento natural, como nadar em sincronia e interagir socialmente. Em aquários pequenos, a dinâmica do cardume fica comprometida, e os peixes podem se tornar tímidos, agressivos ou apáticos. Além disso, um aquário maior dilui a concentração de excretas, facilitando a manutenção da qualidade da água.
  • Considerações adicionais: Ao escolher o tamanho do aquário, é importante levar em conta:
    • Número de peixes: Quanto maior o cardume, maior deve ser o aquário.
    • Espécies companheiras: Se o aquário for abrigar outras espécies, o tamanho deve ser ajustado para acomodar a todos adequadamente.
    • Decoração: A presença de plantas, troncos e outros elementos decorativos também ocupa espaço no aquário, o que deve ser considerado na escolha do tamanho.

Oferecer um aquário com pelo menos 50 litros para um pequeno cardume de Tetras Sangue é o ponto de partida. Aquários maiores proporcionam um ambiente mais natural e saudável, permitindo que esses peixes exibam toda a sua beleza e vitalidade. A prioridade deve ser sempre o bem-estar dos animais, oferecendo espaço para que possam nadar, interagir e viver plenamente.

Posição no Aquário

Observar onde os peixes nadam e se concentram no aquário nos dá pistas sobre seus hábitos e preferências. No caso do Tetra Sangue:

Região de ocupação: O Tetra Sangue costuma ocupar principalmente a região média e superior do aquário. São peixes ativos que nadam em cardume, explorando essas áreas em busca de alimento e interagindo uns com os outros.

Comportamento de natação: Apresentam natação ativa e constante, movendo-se em cardumes coesos pela porção média e superior da coluna d’água. É comum observá-los subindo à superfície em busca de alimento ou para respirar ar atmosférico ocasionalmente.

Implicações para o layout do aquário: Conhecer a preferência do Tetra Sangue pela região média e superior do aquário nos ajuda a planejar o layout de forma mais eficiente. Algumas dicas importantes:

  • Espaço livre para natação: É fundamental deixar espaço livre na parte média e superior do aquário para que o cardume possa nadar livremente. Evite o excesso de plantas altas ou outros elementos decorativos que possam obstruir a movimentação dos peixes nessas áreas.
  • Plantas flutuantes: A presença de algumas plantas flutuantes pode ser benéfica, oferecendo áreas de sombra e diminuindo a intensidade da luz, o que agrada aos Tetras Sangue. No entanto, é importante não exagerar na quantidade de plantas flutuantes, para não bloquear completamente a luz e impedir a oxigenação da água.
  • Plantas de fundo e médio porte: Plantas de fundo e médio porte podem ser utilizadas para criar um ambiente mais natural e oferecer refúgio para outros peixes que ocupam outras regiões do aquário.

Interação com outras espécies: Ao escolher outras espécies para o aquário comunitário, é importante considerar a região que cada espécie ocupa. Espécies que habitam o fundo, como coridoras, ou a parte inferior, como alguns ciclídeos anões, podem conviver pacificamente com o Tetra Sangue, já que não competirão pelo mesmo espaço.

O Tetra Sangue é um peixe que explora ativamente a região média e superior do aquário. Oferecer espaço livre para natação nessas áreas e considerar a interação com outras espécies são aspectos importantes para garantir o bem-estar e o comportamento natural desses peixes vibrantes.

Referências

  1. FISHBASE. Hyphessobrycon eques. Disponível em: https://www.fishbase.org. Acesso em: 16 jan. 2025.
  2. SERIOUSLY FISH. Hyphessobrycon eques. Disponível em: https://www.seriouslyfish.com/species/hyphessobrycon-eques/. Acesso em: 16 jan. 2025.
  3. AXELROD, H. R. Complete Aquarium Encyclopedia. Neptune City, NJ: T.F.H. Publications, 1992.
  4. MILLS, D. You and Your Aquarium. London: Dorling Kindersley, 1993.
  5. REIS, R. E.; KULLANDER, S. O.; FERRARIS JR, C. J. (Eds.). Check List of the Freshwater Fishes of South and Central America. Porto Alegre: Editora da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2003.
  6. STERBA, G. Süsswasserfische der Welt. Leipzig: Urania-Verlag, 1990.
  7. AQUARISMO PAULISTA. Tetra Sangue (Hyphessobrycon eques): cuidados e características. Disponível em: https://www.aquarismopaulista.com/tetra-sangue. Acesso em: 16 jan. 2025.
  8. AQUALOG. All Tetras: Hyphessobrycon and Related Genera. Rodgau: ACS GmbH, 2005.

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